sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Homens das letras e homens de ação

"luz, câmeras..." 


Incrível como estar longe do que nos é familiar desperta uma série de insights e descobertas: sobre a vida, as pessoas, os relacionamentos. Tantas são minhas novas percepções recém-adquiridas que tenho até uma listinha de textos a desenvolver com tais visões. Porque para mim a melhor maneira de destrinchar um pensamento é escrever sobre ele. Você talvez prefira levar o tema à mesa de bar e argumentar sobre ele entre um chopp e outro. Participo, certamente. Mas raramente serei eu a propor a pauta. Quando um assunto verdadeiramente me desperta eu o escrevo. Resumindo, sou das letras. Também com os sentimentos. Despejo saudades, lembranças e anseios em um papel em branco como ninguém. Acho lindas as cartas de amor...

Refletindo sobre isso me dei conta de que em relacionamentos amorosos o mundo se divide em homens das letras e homens de ação. Os homens das letras são aqueles que compartilham dessa familiaridade com o universo em prosa, em verso, dividido em parágrafos, embalado por vírgulas. Abusam do charme em flertes escritos, paquera em caracteres, a tentativa da conquista à distância. Verdadeiros sedutores: são elegantes, cultos, te leem nas entrelinhas do que você mesma disse para te surpreender em uma próxima mensagem. Encantadores. Exemplares em extinção e ótimos namorados à distância, tem o poder de cultivar o interesse mesmo de longe.

E há os homens de ação. Do real, do tempo presente. É daquele que certamente vai tentar te beijar no primeiro date e ai de você se não ficar bem esperta com a continuação dos acontecimentos, porque com ele “apitou, tá valendo” e todo jogo vale campeonato. Ao contrário do homem das letras, os de ação não toleram bem a ausência, não entendem o porquê da troca contínua de letrinhas miúdas digitadas em uma tela touch screen. O touch deles é outro. Na linguagem dos gays (amo que eles eles têm expressões para quase tudo que concerne relacionamentos) ele é um “boy chucro”. Ou um “boy bruto”. Subcategoria rara dentre a espécie (também rara) dos “boy magia”. Não é pós-graduado em Romance pela Sorbonne, mas se você tiver sorte de ser sua eleita, nos braços dele se sentirá protegida e amada em qualquer circunstância. Daquele homem bem resolvido, bem sucedido e exatamente por isso bem ocupado, não te manda mensagens à toa. Quando manda é para falar que “você faz falta”. Sinta-se lisonjeada. Parar a vida real para se conectar a uma forma de virtualidade e escrever que você faz falta... é porque você de fato faz. E um simples “te adoro, queria você aqui comigo” te faz suspirar mais do que a tentativa muitíssimo bem articulada de flerte virtual, porque evoca o momento real em que vocês estiveram juntos.

No mundo deles, quando maduros, um casado tem mais status do que o inveterado solteirão boêmio, figura tão admirada dentre intelectuais letrados. Para ele o ter sempre com quem compartilhar alegrias e dores, a feliz segurança da sempre presença e o comprometimento com uma vida a dois (e no futuro próximo porque não a três, quatro... sim, um homem de ação pensa em herdeiros), tem mais valia do que o sonho de uma liberdade total e sem amarras, a possibilidade de mil viagens, mil conquistas. Ele não seduz por esporte, hobbie ou diversão. Isso ele deixa para os homens das letras, que o fazem bem.

O homem de ação é um homem de presença, para quem apenas o olhar, o toque e o real importam. Um homem que não tem ciúmes de redes sociais. Até se incomoda em saber que sua namorada dependente midiática possa ser paquerada quando imersa no submundo da virtualidade, mas não se preocupa. Porque sabe bem a diferença entre o virtual e o aqui agora, tempo verbal que ele conjuga com maestria. Tudo isso sem soberba, sem arrogância. Pura e simples confiança. A calma da certeza de que o que ele oferece não existe em mundindos paralelos do cyberespaço. Só existe na vida real. No calor do encontro, no toque da pele. No frigir dos ovos, ou no somar das sílabas, o “você faz falta” vindo de um homem de ação é mais embebido em poesia e romantismo do que um poema de Drummond, pois te faz realizar que quem faz falta na verdade é ele. Afinal ninguém te carrega no colo, te faz massagem nos pés ou te faz sentir a mais amada das mulheres com um olhar ao juntar letrinhas.

Letras são importantes, o sonho é importante. Mas o real também é. Um casal perfeito é composto por um ser de letras e um ser de ação. Como fogo e gasolina é a receita de combustão. Na verdade fazer rima não era intenção. Mas se assim quis o acaso, porque não? São dessas coisas que acontecem aos seres das letras, atingir vez por outra a iluminação. No meio de pensamentos tão mil, tão múltiplos, sempre em turbilhão... aquele momento sublime em que alcançamos a dádiva de, ao escrever, escutar o coração. 

4 comentários:

Juliana disse...

Ah, o homem das letras, suspiro.
Ah, o homem de ação, supiro.
Os dois juntos = Mr Grey <3
Como não amar? :)

Marilia disse...

Hmmmm, Mr. Grey... Preciso ler esse 50 tons de cinza... Mas acho q a junção dos dois só existe mesmo na literatura, viu, Juliana? Rs

Pestaninha disse...

Também sou mais o Mr. Grey, embora tenha que discordar da xará acima. Mr Grey não é um homem de letras.

Anônimo disse...
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