Mesmo que superconectada a um sem número de redes sociais
(Facebook, Twitter, Instagram, Pinterest, Blog, Tumblr) ainda escrevo
muito em papel, talvez mais do que deveria. Junto com a alfabetização, ganhei (acreditem
se quiserem) um pequeno calo no dedo médio da mão direita, que persiste até hoje, um "troféu" às avessas conquistado por tanto escrever. Para o trabalho, necessário que seja direto no teclado do computador, para
redigir, pesquisar dados, inserir ou cortar, editar e enviar. Mas quando se
trata de elucubrações pessoais, textos de cunho perigosamente autobiográficos,
devaneios, exorcismos de angústias ou até mesmo lista de afazeres do dia,
prefiro mesmo papel e caneta. E quando o assunto é sentimento... Nada melhor do
que a boa e velha carta. Existe telefonema, e-mail, whatsapp, skype... Mas nenhum
deles tem o toque. O papel que você tocou, pegou, escreveu, dobrou, colocou no
envelope e selou com um beijo é o mesmíssimo papel que vai chegar às mãos do
destinatário da sua mensagem. É de alguma forma uma maneira de tocar de verdade
a pessoa, um presente material, físico, que se pode ler, reler, colocar embaixo
do travesseiro, usar como marcador de livro, colocar dentro da bolsa...
Ainda que mantendo o hábito de escrever em papel, bloquinhos, moleskines, agenda e
afins, estava afastada da magia das cartas desde que me deparei com “O
Rio é tão Longe”, de Otto Lara Resende (Ed. Cia das Letras), uma apaixonante coletânea de suas
cartas ao amigo de infância e também escritor, Fernando Sabino. Mesmo morando
em cidades e às vezes países diferentes por boa parte de suas vidas, mantiveram
a amizade por meio das missivas constantes de Otto, um inveterado epístola. A mineirice das narrativas, a riqueza de detalhes do dia-a-dia contado ao amigo, as aflições, as alegrias, os planos... Dei boas risadas e derramei algumas lágrimas com o livro, e isso de alguma forma me fez
relembrar o quanto é fantástico escrever e receber cartas. Me arrependo de ter rasgado em milhares de pequenos pedaços cartas lindas do meu primeiro namorado. Eram provas de um amor que pode não ter se concretizado em sua plenitude, mas que em seu momento foi real. Da humilde sabedoria balzaquiana dos meus trinta anos, meu conselho às jovens senhoritas: não se desfaçam das cartas de amor. Simplesmente não. Ok rasgar as fotos, jogar fora presentes e bloquear o dito cujo no facebook. Mas mantenha as cartas. Há nelas algo de mágico que transcende o tempo e se destruídas forem, podem despertar uma maldição. Como quebrar um espelho pode trazer sete anos de má sorte (é, eu não falo nem escrevo tal palavra), desmaterializar uma carta de amor tem efeito similar. Se vos consola saber, faz exatos sete anos que cometi tal imperdoável engano. E enfim reencontrei um novo amor desses merecedores de receber cartas escritas à mão e enviadas pelas sensacionais instituições chamadas Correios. Coincidência? Tirem suas próprias conclusões.
Longe de casa, a carta ganha ainda mais importância. É
preciso escrever, endereçar, selar, ir até o Bureau de Poste e enviar. Não é simples, não é moderno, não é
prático. Mas como disse Pessoa, “Tudo vale a pena...”. E sim, obrigada Deus, minh´alma
é grande. O inconveniente, e ao mesmo tempo belo, das missivas postais além-mar
é que quando chegam ao destinatário, as ideias ali contidas podem já ter se
esvanecido, alguns sentimentos se perdido, algumas dúvidas solucionadas. Cartas
são sólidas, eternas, e exigem o mesmo grau de comprometimento. Sentimentos
escritos em cartas duram mais tempo, pois não voam no cyberespaço. Vão por mar, pelo ar, pela terra e pelo homem. Viajam
de navio, avião, caminhão e na bolsa do carteiro até chegar embaixo da sua
porta. O papel eu posso beijar com meu batom vermelho que você gosta, mas também não
gosta porque não pode me beijar. E dentro do envelope posso colocar uma pétala
de rosa do verão parisiense, que com sorte vai levar um pouco do mesmo aroma que eu respirei aqui para que você sentir aí.
5 comentários:
Amei o texto, todos que estivessem longe dos entes queridos deveriam ler, e, fazer o esperado: mandar uma carta ou cartão postal.
Viajei recentemente por antigas fazendas de algodão dos EUA e me surpreendi com quanto da história daquela região foi recuperada devido a caixas de cartas esquecidas em sótãos e porões. Corremos o risco de perder essa magia devido a velocidade e superficialidade (talvez até volume) de nossas trocas de mensagens de hoje em dia.
Você acabou escrevendo não apenas uma declaração em defesa das cartas mas também uma verdadeira carta de amor.
Fiquei lembrando de quantos meu coração disparava quando na adolescencia recebia cartas de amor!!! Bom demais!!!
Amando, amando, amando saber mais e mais dessa cidade maravilhosa que é Paris, por uma pessoa tão incrível como você Ma!
Cartas são delicadezas,
deliciosas de se escrever e mais ainda deliciosas
de se receber e compartilhar opiniões e preferências!
Concordo que comunicação escrita em papel é
muito mais personalizada e intusiasta,traz mais charme e calor de quem remete à quem se destina.VIVA PARIS*!
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