Existe toda
uma mítica sobre a elegância das mulheres parisienses, coisa
que estando em loco é possível reparar que não se trata de lenda, e sim de uma
realidade, porém muito mais palpável e acessível do que se imagina. A começar
pelo cuidado com o corpo.
Como bem disse Karl Lagerfeld: “Elegance is a physical
quality. If a woman doesn't have it naked, she'll never have it clothed.” Frase muito propícia às
francesas, que, desnecessário dizer, são magras. Não chegam a ser anoréxicas,
mas nada têm em excesso. Isso se deve não apenas à cultura alimentar, que tem verdadeiro pavor de junk food e tranqueiras express, mas também ao estilo de vida: os
prédios de até seis andares sem elevadores, o hábito e necessidade de muito se
caminhar pela cidade...
O conceito de
elegância aqui caminha junto com conforto. Um salto 15 pode ser sexy, mas se a
dama anda cambaleante e trôpega como se equilibrando-se em um andaime em movimento
(fenômeno muito visto em Londres, apenas mais um pequeno dado que aumenta o completo
desinteresse e desprezo dos gauleses pelos britânicos), o potencialmente belo vira
ridículo. E com isso eles são críticos. Extremamente críticos. Aqui ter o
mínimo de classe para comer, caminhar, falar, conversar, não é apenas opção, é
obrigação. As madames e mademoiselles que usam salto marcham rapidamente como se descalças estivessem,
tamanha a desenvoltura que tem em caminhar na ponta dos pés, verdadeiras primeiras
bailarinas do Opera.
Com relação
às compras, quantidade não é mérito algum. O que importa é qualidade,
durabilidade e beleza de uma peça. Ao invés de dez sapatilhas Made in China, cada uma de uma cor, de 20
euros (que sim, existem aos montes por aqui), as verdadeiras parisienses
preferem esperar, economizar, e arrematar apenas uma, de cor neutra, preta ou
nude, da Repetto, por 200 euros. Por que sabem que a maison é uma garantia. Que
se o solado soltar ela tem a quem reclamar, se o laço se desprender, ela tem
quem conserte. E de graça, pois as tradicionais casas de moda ou de calçados
(como é o caso da centenária Repetto) tem extrema preocupação em manter seus
clientes satisfeitos para os cultivarem fiéis à marca e preservarem suas
reputações de qualidade e bom atendimento. O mesmo vale para bolsas e roupas de
modo geral. Aqui a grande maioria das residências tem espaço limitado, portanto, não
há sentido (nem closet suficiente) para quinze escarpins, vinte sapatilhas,
oito botas, dezessete camisas de seda, trinta e nove calças jeans...
Simplesmente não. O guarda-roupa é reduzido ao seu mínimo indispensável com
pequenos lapsos de indulgência, em geral nos acessórios. E é aí, exatamente aí,
que a elegância aparece: nos básicos fundamentais, com toques mínimos de
charme.
A francesa sabe o valor dos clássicos e o que lhe cai bem, portanto não
adere a modismos e tendências bizarras. As saias mullet, por exemplo, encalham
nas araras de todas as lojas, nem mesmo na liquidação são vendidas. “Porque
essa coisa assimétrica horrorosa que não valoriza meu corpo se uma saia lápis
ou godê é tão mais feminina, atraente e atemporal?”, devem pensar.
Por portarem só neutros, básicos com raras interferências, estão sempre prontas e não sofrem da dúvida do que o "orna" com o quê, drama tão comum entre as latinas. A ilustradora e top blogueira Garance Doré definiu com perfeição: "A parisian girl doesn´t take hours to get ready. She´s always to the point". E perfumadas. Algumas até sem muita noção do clima, usam adocicados e amadeirados neste verão cruel que tem feito, mas de toda maneira, um dado interessante: usam o perfume como um acessório de moda. Sempre.
Mas como atingir esse clímax de praticidade e elegância do vestir parisiense? Primeiro de tudo: desapego à quantidade e variedade. Foco no que realmente é essencial, no que será usado com frequência e das mais variadas formas. Tentando entrar nessa onda, me propus um exercício que é sempre interessante (e difícil) quando o assunto é moda: fazer uma boa mala. Se você pretende vir à Paris em breve, essa listinha será de grande ajuda, eu garanto.
Voilá,
portanto, o guarda-roupa básico de uma verdadeira parisiense:
- Calça skinny jeans
- Calça skinny preta
- Camisa branca
- Camisa jeans
- Camiseta
mariniére (listrada estilo navy)
- 1 Camiseta
branca, 1 camiseta preta
- Saia preta média (lápis ou plissada godê)
- Saia preta longa
- 2 blusinhas
leves de seda para noite
- 2 vestidos
de noite
- 1 vestido
preto (o universal LBD, little black dress)
- 2 vestidos
florais ou estampados para o verão
- 1 blazer preto, 1 blazer nude/camelo/bege
- 1 cardigan preto, 1 cardigan nude/camelo/bege
- 1 escarpin
preto e 1 escarpin nude
- 1 sapatilha
preta, 1 sapatilha nude
- 1 bolsa
preta, 1 bolsa nude
-Para o
inverno (longe de ser o caso no momento):
um casaco pesado
preto, (só para a sobrevivência nas ruas, já que em todas as casas e
estabelecimentos há calefação) e uma boa bota
preta.
E com isso dá pra fazer variações mil, looks sempre diferentes e charmosos!
Acessórios
são daqueles que não se trocam com frequência, sempre os mesmos, por isso devem ser leves,
discretos e de metal nobre: brinco de pérolas, colar de ouro delicado com
pingente idem, anéis finos e pequenos. Dois cintos e dois lenços ou echarpes, para o cabelo, pescoço ou mesmo para amarrar na bolsa e pronto, já deu cor e estilo ao visual.
Ah, se eu
soubesse (ou me lembrasse, na verdade) disso antes de ter feito minha mala...
8 comentários:
Interessante e bem escrito, além de útil...vou seguir à risca em minha próxima viagem a Paris!
Adorei!!!
Perfeito!!!!<3 <3 <3
Muito interessante a matéria.Os comentários são muito úteis.De leitura muito agradável o texto é um deleite. Para minha próxima viagem à Paris vou seguir o conselho sobre focar no essencial para fazer uma mala prática e elegante!
Amei seu blog e este texto em especial está excelente em todos os sentidos. Parabéns!
Eu invejo super as francesas! Menos é mais, sempre. devorei o guia "A Parisiense" em uma tarde ;-)
Oi Juliana! Me dê mais detalhes desse guia "A Parisiense".
Amando os posts!!!!
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