Mais do que o perfume mais vendido do mundo, o Chanel nº5 é uma fragrância com história, que acaba de ganhar nova versão, a Eau Première.*
Confira entrevista exclusiva com Jacques Polge, perfumista da maison há 30 anos.
Essa é a primeira vez que se mexe na fórmula do Chanel nº5 desde 1921. Como ficou o Eau Première?
O Eau Première é o n°5 com uma combinação de reminiscências do passado e promessas de futuro. Ele evoca sentidos que nos trazem boas lembranças, mas sem nostalgia. O nº5 original permanece no mercado, e não poderia ser diferente para o perfume mais vendido no mundo desde a década de 20. É uma fragrância atemporal e que se torna mais intrigante à medida que o tempo passa.
O que muda nessa nova versão?
O Eau Première tem bouquet mais abstrato, como o frescor do orvalho em botões recentemente abertos. Para usarmos outra analogia, se o n°5 é uma pintura, o Eau Première é uma aquarela. A essência é a mesma, mas vem mais etérea, mais suave.
Quais são os ingredientes que compõem o Chanel nº5 e o Eau Première?
O coração da fórmula do n°5 é feito com flores do mundo inteiro. Das Filipinas, de Madagascar e de Mayotte, ilha do Oceano Índico. A rosa de maio e a rosa silvestre são de Grasse (região da Provença, na França). O ylang-ylang de Comores (arquipélago entre a costa da África e Madagascar) é leve e discreto e confere as notas de suavidade e frescor. Cada flor traz uma determinada ideia de feminilidade que se combina na composição, adicionando sedução a esse bouquet de presença indefinível. E os aldeídos são a chave para a “arquitetura” mineral do perfume e seu brilho vibrante.
“Um perfume de mulher, com cheiro de mulher e tão caro que ninguém possa copiar.” As recomendações de mademoiselle Chanel para a criação do nº5 em 1921 continuam válidas para caracterizar a nova versão da fragrância?
Sim, em perfumaria o real luxo sempre vem agregado a um alto preço. Isso garante a identidade imutável de uma fragrância excepcional que simboliza o estilo de Chanel. É nossa regra para todas as essências da casa.
Algumas pessoas têm a sensação de que o nº5 é um perfume para mulheres maduras. Essa nova versão vem mais jovem para mudar essa concepção?
Não vejo como uma questão de idade. O n°5 tem o poder de entorpecer e seduzir em qualquer idade. Na França é bem comum ver uma jovem usando-o. E o Eau Première é uma reinterpretação do n°5 com arte. Foi revigorado, extraindo os mistérios de sua própria lenda, e está de volta como se fosse seu primeiro dia, com tons e transparências mais pastéis.
Das muitas das fragrâncias Chanel que você criou, tem uma preferida?
Coco Mademoiselle é meu favorito. Cada vez que o sinto em uma pessoa diferente eu o amo mais, pois vejo o quanto ele se adapta a cada personalidade. É um perfume que incorpora o patrimônio de Chanel, contemporâneo e elegante. Gosto bastante do Chance. Foi criado para a mulher que é proativa, cheia de energia, moderna e urbana, uma mulher que se mantém ativa dia e noite. O nº 5 não é minha criação, mas é um clássico indiscutível. Ele exala confiança e as mulheres devem usá-lo onde querem ser beijadas. Suas características são tão complementares que ele é ao mesmo tempo Leste e Oeste, Sol e Lua e está mais vivo do que nunca.
Você acha que um determinado perfume tem idade ideal para ser usado?
Perfume é um produto de desejo e luxo. Ele expressa a personalidade, a atitude e até mesmo o humor e estado de espírito das pessoas. Bem escolhido pode fazer a mulher se sentir irresistível, romântica ou cheia de energia. Atualmente é parte integrante de qualquer produção. Então realmente não há barreiras etárias quando se fala de fragrâncias. Ele deve apenas ser escolhido com cuidado, tem de combinar bem com você e com seu estilo de vida. No fim da história o que define é sua personalidade e como você se sente consigo mesma.
* Entrevista publicada em Wish Report , edição 28, março/abril de 2009