segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Porque 2012 foi tão especial

Agosto de 2012, a imagem que mixa um pouco das experiências deste ano. No La Pagode, cinema que manteve decoração oriental de um antigo templo budista em Saint Germain de Prés. 

Meu 2012 começou na Índia. Lá o 31 de dezembro é um dia como outro qualquer. Não houve festa de Reveillon, passei a virada dormindo, inteira de vermelho. Até tinha levado um "look" todo branco, mas santa ingenuidade, lá o branco é a cor da tristeza e do luto, e como já tinha introjetado muito das crenças locais, optei pelo escarlate sangue. Me tornei espiritualizada, aprendi (um pouco) o desapego, o poder da energia, me interessei por novas formas de religiosidade, me encantei pelo hinduísmo e seus deuses. Sei entoar mantras e reconhecer Khrisna, Lakhismi, Shiva, Durga e Ganesha por suas imagens e representações. Passei a ver o yoga com outros olhos, uma forma física de exercitar o espírito, no contexto de que alma e corpo estão sim conectados. A arte de absorver bem o prana, o ar vital, o sopro da vida, que está disponível à todos, mas nem todos sabem como usá-lo. E no país que criou o Kama Sutra, mostrar os braços ou a canela é extremamente provocativo. Decote? Nem pensar. Mulheres desacompanhadas (foi meu caso) são mal vistas ou vistas com desconfiança pelas mulheres e vistas com olhos de lobos famintos pelos homens. Sorte que o hinduísmo prega a extrema pacificidade e a não violência. Mas isso não estragou em nada a experiência. Sempre que ouço som da cítara, sinto o aroma de um bom incenso, vejo imagens do Ganges... desejo voltar à Índia. Mas desta vez acompanhada. 

Mal cheguei em terras brasileiras, um choque imenso de culturas. Verão bombando, muito corpo à mostra, uhhul. "Vamos pro Rio no Carnaval?" Como boa aquariana (existe aquariano ruim? rs) , não nego um convite a festejos e folgueios. Carnaval no Rio de Janeiro, com direito a bloquinhos mil e até (pasmem) desfile na Portela. A Sapucaí vibrando, a energia da bateria, etc e tal. Catalogo a experiência como "coisas que tem que se fazer na vida". Bom, eu fiz. Mas nunca mais. Tks, but no, tks. Sem a fantasia bizarramente desconfortável de índia andina (maia ou sei lá eu o que, não me lembro nem do samba enredo! rs) eu estava quase nua, apenas de biquíni  Onde se guardar celular, câmera fotográfica, dinheiro, batom? Gata, acorda! Esqueça tudo isso, acomode algumas notas de real no meio dos seios e entre na avenida sorrindo, fingindo que está tudo ótimo e que está curtindo adoidado. Que "atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu" eu posso até concordar, caetaneando o que há de bom (ou não), mas atrás do carro alegórico só vai quem é masoquista ou da comunidade. Ou está pagando promessa. Vai saber, né, tem louco pra tudo. 


No trabalho, descobertas, novas percepções sobre habilidades e talentos... tentativas de direcionamento de carreira... Enfim a aceitação de que é impossível fugir de quem se é. Eu escrevo. Seja ficção, factual, místico, noticioso ou banal, eu escrevo. 


Fiz 30 anos. O drama bobo, porém real, de ingressar no universo das balzaquianas. Aprender na pele e na cara que uma mulher linda aos 23 tem simplesmente sorte, mas uma mulher linda aos 32 é inteligente, forte e merecedora. 


Me apaixonei. Sofri por amor. Acordei de uma ingenuidade "pollianística" que me levava a crer que todos vivem sempre na mesma sintonia de amor e harmonia que você deseja ao seu próximo, de que o mundo é lindo e que a reciprocidade sempre guiava a lei natural dos encontros românticos. Deixei cair os óculos cor-de-rosa. E que paradoxo, para amadurecer, tive de retomar a lição aprendida na infância, de que lobos maus existem SIM, atenção, chapéuzinho vermelho! Caí na dura realidade de que não estava mais às margens do Ganges entoando mantras e sim às margens do Pinheiros onde a lei do mais forte e do mais esperto comanda. Voltei a entender que aqui o que vale é a máxima do "Cada um por si e Deus por todos", quando há Deus. Me entristeci. Senti saudades do Oriente, onde as relações pessoais são mais translúcidas e mais lúcidas, onde o cumprimentar não é um estalo de beijo fingido dado na orelha e sim uma saudação de encontro de olhares, mãos unidas e cabeça baixa.


Realizei um sonho: Passei uma longa temporada no verão parisiense. Me perdi feliz nas ruas estreitas do Marais... Acendi velas na Sacre-Coeur, chorei de emoção na Chapelle da Medaille Miraculleuse. Andei com uma baguete embaixo do braço e uma garrafa de Bordeaux na mão. Às margens do Sena, bien sur. Tomei champanhe rosè no terraço de um hotel cinco estrelas no 7éme (não digo o nome mesmo porque eles não divulgam à mídia, é um espaço super reservado, pequeno e exclusivo, quem quiser que me pergunte). Chorei de saudades no metrô, entre as estações Louvre-Rivoli e Hotel de Ville. Ouvi Michel Teló na Champs Élysée e Gustavo Lima em Saint Germain de Prés. Fiz piquenique embaixo da torre Eiffel. Chorei de emoção patriota ao assistir em terra estrangeira a apresentação brasileira na cerimônia de encerramento das Olimpíadas de Londres. O hino nacional. Marisa Monte quase uma Iemanjá cantando as Bachianas de Villa Lobos. O gari carioca Sorriso. A ginga. A alegria. O nosso povo. Me arrepio ainda agora, só de lembrar.  Entendi finalmente que por mais que eu tenha paixão pela língua, pela história e pelos costumes franceses*, o meu lugar e onde meu coração bate mais forte é aqui. Brasil. Retomei a fé pelo meu país. Que piegas. Mas que verdade. 


Reencontrei amigas de colégio. Que calor no coração ver que não importa o tempo, a distância, os diferentes estilos de vida que cada uma optou. A conversa e as risadas são fluídas e contínuas como se tivéssemos nos visto ontem. Mas não foi ontem, fazem 15 anos. Não interessa, nada, nada mudou. E gargalhamos até sentir trabalhar os músculos abdominais. Entendi que isso sim é encontro de almas, amor verdadeiro. Entendi que amizade é amor. E isso me fez valorizar ainda mais todos os meus amigos, as pessoas com quem eu tenho uma real conexão. E como sou sortuda, como tenho amigos verdadeiros e maravilhosos! 


Me apaixonei de novo. E dessa vez pra valer. Por mim. Pelo mar infinito de múltiplas possibilidades de felicidades e alegrias que a vida tem e pode ter ainda mais e que só depende de como você a encara, de como você a interpreta e a partir daí, de como você age.