Wish mostra com exclusividade a coleção particular de Yves Saint Laurent e Pierre Bergé. Companheiros por décadas, eles mantinham, em casa, 700 obras, dentre Picasso, Mondrian, Matisse, Goya e Cézanne. Tudo isso, em breve, estará à venda.
por Marília Levy
Uma das mais suntuosas coleções privadas de arte da Europa está à venda. São mais de 700 obras de diversas épocas, estilos e continentes, dentre quadros, esculturas, móveis e antigüidades. O conjunto impressiona não só pela quantidade, mas também pelo ecletismo e valor artístico. Há telas de Mondrian, Matisse, Goya, Picasso e Cézanne. O extraordinário tesouro é resultado de 50 anos de parceria de dois grandes admiradores da arte: Yves (Henri Donat Mathieu) Saint Laurent e Pierre (Vital Georges) Bergé. Companheiros e sócios desde que se conheceram em 1958, ambos compartilhavam o mesmo amor à arte e iniciaram juntos uma estupenda coleção, dividida em dois endereços: no apartamento de Pierre, na Rue Bonaparte, e na residência de Yves da Rue Babylone, ponto nobre do 7º arrondissement, na Rive Gauche de Paris.
Filho da classe média do interior francês, Pierre migrou para Paris para se dedicar à literatura. Fez amigos como o escritor Jean Cocteau, de quem detém os direitos da obra até os dias atuais. Ao final da década de 1950 conheceu o jovem costureiro Yves, recém-chegado da Argélia, que logo seria assistente de Christian Dior. Foi o início de uma união para toda a vida. Bergé se tornou sócio da maison de alta costura de Yves Saint Laurent, que abriu as portas em 1962. A partir daí, encabeçaria todas as negociações e se tornaria o empresário da excepcionalmente bem-sucedida grife. Mas sua participação no mundo da moda não se limitou à sociedade com o estilista. Em 1973, Bergé criou o grupo Mode et Création, que representava os estilistas de Paris perante a Câmara Sindical da Moda, e os incentivou a apresentar suas coleções no mesmo evento. Nascia, ali, a primeira Semana de Moda da cidade. Coleção após coleção, de alta costura e prêt-à-porter, Yves Saint Laurent marcou para sempre seu nome na história do vestuário contemporâneo e sua morte, em junho deste ano, foi considerada a perda de uma das últimas lendas vivas da moda, ao lado de Gabrielle Chanel, Christian Dior e Hubert de Givenchy. A quem possa estar se perguntando o porquê de se desfazer de tamanho patrimônio cultural acumulado ao longo de décadas, Pierre Bergé explicou na ocasião do anúncio oficial do leilão: "Yves está morto. Essa coleção não tem mais significado para mim, quero apenas dar um fim a tudo isso." Do enorme acervo, Bergé reservou apenas duas peças de maior valor afetivo: uma escultura africana e o retrato do estilista feito por Andy Warhol em 1972.
A Christie’s, organizadora do evento, é parcimoniosa ao falar de valores e acredita que a soma deverá chegar a 300 milhões de euros. Porém, especialistas revelam que se trata da "venda do século", e que deve ultrapassar com facilidade a marca de meio bilhão de euros, ou quase um US$1 bilhão. Peças improváveis de se achar fora de um museu, como uma escultura de madeira do período ptolemaico egípcio, datada do século 4 a.C., estará à venda a um lance inicial de 70 mil euros. Mestres em mesclar estilos artísticos dos mais diversos na decoração, Laurent e Bergé conseguiam compor ambientes onde uma escultura chinesa da Dinastia Qing e vasos art déco de Jean Dunand conviviam em perfeita harmonia com tapeçarias Gobelin, móveis italianos do século 18 e composições cubistas de Fernand Léger e Mondrian. "Para Yves Saint Laurent, a arte era uma necessidade vital, indispensável à sua inspiração, era como o ar para sobreviver. Ela apaziguava sua personalidade depressiva", relembrou o marchand de antigüidades Alexis Kugel ao periódico francês Le Figaro.
O leilão acontece durante três dias, de 23 a 25 de fevereiro de 2009, no saguão do Grand Palais, em Paris. Parte da renda será destinada à pesquisa de novos medicamentos para a Aids e à manutenção da Fundação Pierre Bergé-Yves Saint Laurent, espaço criado em 2002 no número 5 da Rue Marceau para manter viva a memória do criador. A fundação reúne toda a obra do estilista, de croquis do início da carreira a modelos de alta costura e recebe exposições de arte e moda.
PUBLICADO EM WISH REPORT 25
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