Dica cultural para aqueles que, das duas uma: têm tempo de sobra e paciência ou é apaixonado por cinema francês e pelo Louis Garrel. Ou ou dois juntos. Por que o filme, de quase três horas, é todo em preto e branco e tem tomadas longas, poucos cortes e longos minutos de silêncios, bem nos moldes do cinema clássico europeu. Desanimou? Não, calma, lembre sempre da máxima de Fernando Pessoa, respire e recite em voz alta: Tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Pois é bem o que acontece quando você se deixa envolver por uma obra de arte como essa.
O filme se passa em plena revolução dos estudantes em maio de 1968 em Paris. A primeira hora do longa, sinceridade, é nula. Mostra os estudantes (entre eles Louis Garrel na pele do jovem poeta François) entre barricadas, coquetéis molotov e uso de ópio. Só uma hora depois é que aparece a tal "amante constante", Lilie, interpretada por Clotilde Hesme. Aí sim começa une histoire d´amour. Os takes privilegiam a expressão dos atores, a força dos olhares, a conexão entre os personagens. Quem assite mergulha na tela e se apaixona junto com o casal, como se formasse um triângulo amoroso. O despreendimento do relacionamento, e ao mesmo tempo sua intensidade, me lembrou um célebre casal francês real: Simone de Beauvoir e Jean Paul Sartre. (Estou lendo o livro de Hazel Rowley sobre eles, é excelente, depois escrevo sobre)
Dirigido pelo pai, o cineasta Phillipe Garrel, Louis encanta mais uma vez, como em "Os Sonhadores". Ganhador de vários prêmios em 2006, Amantes Constantes levou o Leão de Prata pela direção, melhor fotografia no Festival de Veneza e Cesar (merecidíssimo) para Garrel como ator revelação. As atrações são os atores, a força de interpretação, o roteiro, o timing da direção (às vezes um tanto cansativa, confesso)... Porque mudanças de figurino não há. E isso é encantador. Os protagonistas, reparem por favor, não fazem uma troca de roupa sequer. O look é o mesmo do começo ao fim, com exceção de um casaco mais longo que Lillie adota nos últimos momentos. A atenção é voltada exclusivamente à emoção, ao sentimento, à beleza do amor e da dor. Segundo crítica d´O Globo (estava na contracapa da caixinha de DVD) "Trata-se de um filme imperdível, de uma beleza dura e soberba" . Tenho que concordar.
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